… em resposta à Carta 41.
Carta para Adriana
(02/11/2020)
Ah… a força e a delicadeza dos detalhes, sempre tão eloquentes…!
Você fala, eu falo, falamos todas e todos de tantas e inumeráveis maneiras, e sua carta me chegou assim, Adriana: falando em/de mil formas! Nossos corpos, âmagos e palavras femininas se encontram, na diversidade fundamental que somos. Quanta comunicação!!!
De forma que te cumprimento e te agradeço, sem comprimento, curtinho e curtindo: GRATA!!!
Você me entregou, Adriana, incontáveis ganchos em cada parágrafo! Ali, todos se oferecendo para serem agarrados em reflexões e pensamentos femininos, humanos, poéticos…Daria prosa para algumas garrafas de café!!! (Você gosta de café…?!?)
Logo de cara, cara amiga, te ofereço um dedo de poesia:
ESPERANÇA DOS POETAS
Com os pés fincados
Nesta desgastada amada terra
Sentindo o cheiro ocre
Da pesada tempestade que vem
Com as mãos armadas de flores
Colhidas em cada humano encontro
Com o útero ressecado
Pelas tantas pedras engolidas
Com as unhas cravadas No seio que há tempos nos engole
Olho Olhamos o céu.
Não nos esquecemos Não! Não nos esquecemos que ali Logo além das nuvens - tão cinzamente carregadas...! - O céu é na verdade De verdade Repleto de possibilidades azuis!
Com esse gosto na boca, Adriana, lembro-me que você me perguntou sobre os grupos poéticos, se me divirto ou me intrigo com eles. Pois te digo: todas as alternativas! Meu fazer poético, embora tão pessoal, se faz fundamentalmente em ligação com outras poetas e escritoras, outros poetas e escritores, amigas e amigos. Não previa muito isso, quando comecei a escrever poesia de maneira quase terapêutica – tão ontem…! Mas a caminhada me ofereceu companhias, de alma e de versos, diferentíssimas de mim – estando justamente aí a riqueza, ou parte dela. Nos ajudamos, nos fortalecemos, nos ouvimos, damo-nos pitacos, abrimos caminhos, rimos e choramos, sempre dando à luz a poesia! Mulherio das Letras, Mulheres e Poesia, grupo de Escrita Criativa, Remas, Portal do Poeta Brasileiro, Projeto Ondulações: braços dados que me lançam e aos quais lanço cada vez mais alto e mais profundo!! Campos de girassóis!!!
Sua carta, poeta, me pareceu uma visita de vagalume em noite sem luar….! Trouxe-me flashes de luz, pulsando sem que eu previsse o trajeto, pincelando a paisagem aqui e ali, e indo-se embora para outras paragens, deixando-me com os lampejos a cutucarem-me olhar, pensamentos, sentimentos…!
Caríssima, adorei os mimos!! E a folha amarelo-cheguei no envelope roxo com os adesivos azul e laranja, com sua letra de mão – e coração! – farta, firme, forte, feminina!!! Repito: ah, a força e a delicadeza dos detalhes, tão eloquentes!!
E é assim, sinto, que nossas palavras devem chegar, chocar, carinhar, gerar vida nestes nossos tempos tão necessitados – e houve tempo que não o fosse…?!?!
Sinto-me mais à vontade para expressar-me em versos:
Urgência! Preciso dizer O que vejo eu Com minha voz Única Própria
É necessário Sem ser preciso
Meus netos esperam Sem o saber Ainda
Eis um pouco do que sente aqui essa poeta, mulher, mãe, avó… ressoando suas palavras poéticas, instigadoras….!
E não me alongarei, pois não senti delongas em seu trabalho, Adriana, tampouco em sua carta. Tive a impressão de que você prefere provocar do que dizer, e quando diz, usa palavras poucas e fortes e suficientes para plantar poesia e humanidade e beleza e liberdade de pensar. De modo que já preparo minha despedida. Agradeço novamente, sinceramente, o diálogo! Seguimos pelas campinas, espalhando versos, experimentando poesia, ecoando as vozes das mulheres, construindo o que cremos. E que possamos vez ou outra nos dar as mãos!
Xícara sobre a mesa Anseios também Bem à vista Partilhados Fervendo
Escorremos pela cadeira Pelos poros e versos Sob o canto de pardais -e bem te vis que bem que viram!- Numa quaseinfinita manhã Sentadas numa varanda in-comum!
À disposição,
Maria Teresa!
PS – Envio junto com esta carta, meu carinho e um pouco dos “meus ares”. Que lhe refresquem!