… em reposta à Carta 10.
Prezada poeta Katia Marchese, bons momentos. Saúde e paz.
Recebi com alegria, no início de agosto, a sua amável carta, que ativou relações poéticas e memoriais muito bem-vindas. Os poemas e as memórias existem no tempo e no espaço físico e imaterial. Por sua vez, o tempo e espaço exíguos exigem recortes, notadamente nas cartas, que devem tocar o coração, a emoção e a cabeça; o pensamento. Você escolheu, como ponto nuclear para uma troca ou diálogo, o exercício de tecer considerações a respeito do meu livro “Patuá de palavras, o (in) verso negro”, obra que ganhou espaço na Casa de Vidro, Lago do Café e MIS, em exposições sequenciais no final de 2019 e início de 2020.
Ainda na seara dos indispensáveis recortes, você dedicou uma produtiva leitura, com amarras com outros textos poéticos, do poema concreto Mais-Valia Lia Cia, que ocupa, no “Patuá de palavras”, a parte da obra concebida para o suporte galeria e/ou espaços expositivos públicos e abertos.
Katia, amiga, a propósito das produções poéticas franqueadas ao grande público, o poema “Mais-Valia Lia Cia” fez parte, na década de 1980, em Campinas, da Exposição “Arte em Trânsito”, projeto coordenado pelo MACC, Museu de Arte Contemporânea de Campinas. Katia, como quero dialogar com as suas escolhas e leituras e, na mesma ordem, apresentar laços poéticos encruzilhados, informo que figurou, na mesma exposição, o poema concreto e antirracismo “Bancos Brancos Bancos sem Bantos”.
A sua abordagem e a correspondência ativaram as minhas memórias no que toca aos textos feitos e refeitos no livro “Patuá de palavras, o (in) verso negro”. O livro apresenta especificidades no que tange aos textos poéticos inspirados para o suporte livro e exposição em mural, telões, sistemas informacionais e espaços públicos diversos.
A sua carta, vou me servir do plural, as cartas compõem um novo ciclo de registros autorais e coautorais. Dentro dessas aberturas, Katia, nos aproximamos da obra literária e artística da cidade, que será revista; numa foto em movimento, e atualizada, num hipertexto, pelos leitores(as), a desejada recepção.
Assim construímos, sem um fim ou finalidade imediata, as memórias, o porvir, o imprevisto futuro.
Me animo dizer, amiga Katia, que o “Patuá de palavras” é um elo de poemas e de relações com o presente, o passado e o futuro. É desse modo, além do imediatismo, que a poesia sobrevive e circula. Há sempre cadeias e emaranhados no trânsito das obras literárias. Pode-se dizer que são árvores de palavras conformando as histórias literárias e da literatura.
Assim, no rosário de poemas, “o patuá de palavras”, o livro tem, no mínimo, duas entradas interpretativas e de leitura. A primeira entrada passa pela fatura concreta e exibe vários poemas dessa linhagem. A segunda entrada apresenta poemas concebidos ou inspirados para as leituras discursivas do gênero livro. Nas duas entradas, formas convergentes de ingresso na minha fatura poética, dialogam os poemas concretos, na primeira parte do livro-exposição, com os poemas da concretude e negro-brasileiros; a segunda parte do livro, que é igualmente uma epistemologia poética negro-brasileira.
Katia, quero, para finalizar , e ao mesmo tempo abrir novas interlocuções, destacar, de acordo com as trocas aqui assentadas, que “o patuá de palavras” tem valor, força, sentido e significado retrospectivo e prospectivo. A partir desse rosário de palavras e de linguagens, a poesia sobrevive e igualmente as cartas.
Beijos e abraços patualizados,
Fausto Antonio
Campinas, 16 de agosto de 2020