CARTA 48 – De Adriana Zapparoli para Jeff Vasques

Campinas, 20 de outubro de 2021.

Hoje o dia está ensolarado. Há COVID na espreita.

Prezado Jeff Vasques, como você está?

Escolhi essa manhã agradável para lhe redigir essas palavras. Estive em contato com o seu trabalho poético e suas palavras sobre o amor e passarin. Confesso que é um tema difícil a ser tratado por mim…

Do amor que, muitas vezes, apenas houve a chance de se ouvir falar. Do amor romântico, tão amor quanto os outros, mais amor do que esse que observamos na rotina e não vemos com a força que deveria estar presente. Sobre o amor de mãe e entre as pessoas. Sobre o amor fraterno. Sobre o amor ao Cosmo, ao que pode ser maior. Do amor envolto em escuros… Sobre amor-medo.

A vida passa em um relance e quase não a percebemos. Diga-me sobre suas andanças regadas com versos, conversas, distâncias-distintas levando poesia de encontro aos Hermanos. Confesso que os tenho uma grande admiração e minha segunda língua poética é o castelhano. Fico pensando sobre as paisagens que você encontra em seus caminhos de delivery poético, sobre as noites pelos arredores e há as culturas vizinhas, suas alegrias e tristezas. E há Cortázar.

Penso sobre sua produção artística, não menos poética, Jeff; sempre gostei muito de ver os espetáculos de atuação de palhaços… Palhaços afoitos nos sinais de trânsito de onde vejo desperta pelo vidro do carro. Eu os olho pelo retrovisor… Há uma memória afetiva nisso… Lembra meus pais me levando ao circo. E assistimos tudo sentados em uma improvisação de tábuas, comendo pipocas salgadas e jujubas.

As memórias afloram nesses tempos cínicos da COVID. E trago uma grande tristeza em meu peito por tudo que ela trouxe ao meio artístico. As noites sem dormir. As pausas. Os silêncios. As perdas. Ela nos rouba a todos indistintamente. Estamos esperando esperançosos que nova fase nos conforte. Como você tem lidado na sua rotina de amores com isso? Sabe, eu tenho pensado em escrever um livro sobre essa fase. Mas não sei como proceder. A realidade é que a poesia ainda não se fez corpo. Todos os dias olho ao redor. E tenho um pensamento de força. Amigos artistas estão vivendo de caridade, e isso me incomoda. Muitos na realidade desejam colo e remanso. De longe eu os observo … Muitos estão doentes e eu os entendo. Somos algodão entre cristais. Tento palavras de força, em vão.

Diga-me, a vida na kombi-casa? A kombi-casa lírica. Ela é colorida?

E na kombi-casa, mora um coração aflito de palhaço e suas piadas de oração em risadas perdidas de seu pai, aventuras de frutas e pedaço de pão. Mas é dia de sol e olhares perdidos e de bem-te-vis em fio de alta tensão…

Fico feliz por lhe ter encontrado,

Um abraço, há braço amigo,

Adriana Zapparoli

Prezado Jeff

Eu lhe envio mimos.
Uma imagem em quadro: arte digital de tempos aflitos…
O que você pensa sobre a poesia experimental

Tulipas em ventrículos
em jardim de tulipas negras e outras cores… e leonella e os átrios e os ventrículos… encontra-se agora, entre os anúncios luminosos, em liquens orgânicos, em musgo no ângulo urbano, em vespas de neon, em conversa venosa de assobio… encontra-se entre vários suicídios em ovários, entre bardo de pássaros, entre o sepulcro gótico do cemitério e sua capela (é sério), entre uma xícara de café e uma cigarrilha… de chocolate. e entre os átrios que latem e os ventrículos, sempre cardíaca, em peito. é o mesmo efeito: sempre são sonhos… e tulipas em ventrículos.

Imagem: Adriana Zapparoli
Imagem: Adriana Zapparoli / Ilustração: Sarah Bauer
Imagem: Adriana Zapparoli
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